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terça-feira, 7 de junho de 2011

Não Gosto dos Meninos



Descobri esse vídeo recentemente em um blog que acompanho. Vejam como cada depoimento tem uma dignidade exemplar. A cada comentário ficava mais enternecido, e pensei: Como é bom que os meninos de hoje podem ver tal material. Mostra as diferenças sem alarde, sem estardalhaço. E como diz um dos rapazes, não somos um carro alegórico, temos outras faces também. Esse vídeo deveria estar no mal-fadado kit do MEC. Esse de fato ensina sem agredir, sem polemizar, aqui você não vê somente esteriótipos, mostra pessoas que encararam sua realidade cada um ao seu tempo.
De fato, histórias que gostaríamos de ter ouvido antes. Não tínhamos parâmetros, não tínhamos exemplos. Agora, isso faz parte do passado. Agora vemos que não estamos sozinhos, e que os esteriótipos precisam ser vencidos e estão ultrapassados. Amem-se, aceitem-se. Assumir-se para si mesmo é o primeiro passo, a partir disso tudo fica mais fácil. A parte mais difícil já passou, você se aceitou.

Superando o bullying


     "Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos 
       olhos daqueles que não sabem voar"  Friedrich Nietzsche 

No meu último post falei sobre a importância de se ter autoconfiança. Também falei superficialmente sobre eu ter sofrido bullying. Hoje pretendo dechavar um pouco essa história, e mostrar que mesmo sofrendo todo tipo de violência, se você confiar em sim mesmo, as coisas ficam diferentes, você a cada dia se supera. Esse é o segredo, superação de si mesmo. Quando você aceita esse desafio que a vida impõe, você alça novos e mais altos voos, você aprende que nem tudo é fácil, e se vitimizar não é o caminho. Você sabe que é um vencedor.
Tive uma infância normal, brinquei de carrinho, de fazenda, subia em árvores, fazia bagunça, ia ao rio. Mas também brinquei de boneca, apesar de no final adorar colocá-las na fogueira!! E gostava muito de estragar as brincadeiras das meninas. Sempre gostei muito de ler, comecei cedo com uma coleção dos anos 60 de Contos dos Irmãos Grimm. Até aí acho que tudo correu bem. Estudei em escola pública, e então aos onze, doze anos, o bullying começou. À princípio foi por ser um garoto meio quieto, tímido, inteligente e com um nível social melhor que o da maioria dos outros alunos.
Bom, todos aqui sabem como acontece quando a gente descobre que é diferente, que alguma coisa não está se encaixando. Fui criado em uma família protestante, evangélica, ia aos cultos com frequência, e tinha medo do inferno. Quando percebi que não havia jeito, e que eu me sentia atraído pelos outros meninos, não foi fácil. Odiei tudo aquilo, queria muito que não fosse daquele jeito. Tinha uma aparência masculina, não tinha trejeitos, mas eu, com todo o medo de ser descoberto, ou me imaginarem como uma bichinha, mulherzinha, acabei me isolando, o que acredito foi o estopim para começarem a me chamar de gay. Como aquilo me doia, mesmo sabendo da minha condição. Não apanhei, mas ouvi as piores coisas que um menino pode ouvir. Fui humilhado por um colega diversas vezes, e fui motivo de piada para muitos colegas.
Não sabia me defender, ninguém me ensinou a partir para o vamos ver mesmo!! Duvido que depois disso alguém tivesse me incomodado novamente... Mas não foi assim. O bullying vinha de forma indireta também, pois na igreja o pastor não fazia outra coisa além de atacar e achincalhar os homossexuais. E o sofrimento era solitário. Para quem contar? Como externar o que sentia, sem me denunciar? Não me aceitava, e às vezes tinha esperança de que Jesus me mudaria... Mesmo assim, não me agredi, não me enganei, e não fiquei com meninas para ser aceito. Sofri bastante por estar sozinho, não ter um amigo, e de não ter parâmetros para me espelhar, pois o mundo gay era extremamente distante do que eu acreditava, do que eu era. Apesar disso tudo, sempre acreditei em mim mesmo, sempre pensei que um dia a vida seria melhor, e que só eu mesmo podia reverter a situação. Para atenuar as dores e o sofrimento, me joguei nos livros, e a biblioteca da minha pequena cidade, tranformou-se em um novo mundo, onde descobri que eu tinha o poder de mudar, de transcender minha existência.
Então, depois de muitas idas ao psiquiatra, de tomar antidepressivos e chorar bastante, decidi sair da minha cidade e correr atrás dos meus sonhos. O underground sempre me atraiu mais, não era mauricinho, playboy ou careta, pois desde pequeno já tinha ideias bem diferentes... Tinha 15 anos quando li Nietzsche pela primeira vez. Rock, tatuagens e atitude. Comecei a vencer então o circulo vicioso do bullying. Comecei a me gostar, a me aceitar. Também conheci outros como eu, o que foi determinante para minha aceitação. Já estava me superando, mas ainda não havia percebido. Isso só aconteceu com o Jiu-jitsu. As dores físicas e a disciplina me mostraram e confirmaram o que eu já sabia, mas ainda não aceitava: eu sou um vencedor, confio e acredito em mim. As marcas e cicatrizes do bullying ficaram. Não confio muito nas pessoas, e me relacionar com outro cara é sempre problemático, mas hoje me amo, me respeito e me cuido, e não deixo ninguém dizer o contrário.
Quero com esse post mostrar que o primeiro passo tem que vir de nós, e quero reinterar a importância do Esporte, seja qual for. O Esporte inclui. Para mim foi uma arte marcial, mas pode ser qualquer outro. Também não se engane, não se agrida, não tente ser o que não é. Preserve e celebre sua masculinidade, se dê o respeito, não leve somente o sexo e a beleza como base para um relacionamento, não se deixe seduzir pela falácia gay. Sair do armário é um processo, e cada um tem a sua hora. Meninos, rapazes, homens e senhores, celebrem a sua masculinidade. Ser homem é muito bom. Hoje as coisas estão mais fáceis, afinal, a internet está aqui, fazendo com que nos interliguemos e vejamos que não estamos sozinhos, e que nós homossexuais discretos, masculinos e viris, temos que nos envolver mais, e mostrar que a Ditadura Gay está com seus dias contados.